Monda... o cante alentejano

16-11-2016 21:41

Um contrabaixo, uma garrafa de vinho tinto, 3 copos, uma viola, um piano e microfones... Está preparado o cenário que traz até à capital o cante alentejano, pelas vozes do grupo "Monda". Jorge Roque na voz e guitarra, Pedro Zagalo ao piano e teclado, Herlander Medinas na voz e contrabaixo, sobem ao palco com as suas samarras vestidas e o alentejo chega assim à capital, aos primeiros acordes de "Intro".

Para que dúvidas não houvesse a frase "Cantando e tocando o Alentejo", projectada no cenário, reforçava os inigualáveis sons característicos desta região do país. Não seria necessário. Os "Monda" são o som quente e calmo do alentejo. Basta fechar os olhos, ao som da música que enchia a sala, e seguir viagem para as planíces de tons dourados, onde o sol é quente e as cores se esbatem à sombra de um chaparro.


Jorge Roque, trouxe a voz cadenciada, tipicamente alentejana e ao longo da noite, também revelou ser um comunicador nato, extrovertido e cheio de bom humor! "Boa noite Lisboa, boa noite Alentejo, começámos de modo arrastado, mas, vamos acabar muito alegremente...os primeiros convidados são vocês...estamos praticamente em família!". De "Triste",  apenas o nome da moda que se seguiu, antes de se ouvir entoar aquela que deu início a este grupo, há cerca de ano e meio, "O Mocho", onde contaram com a participação de João Tiago Oliveira, o guitarrista dos Polo Norte. 

"Trabalhar no cancioneiro alentejano, é tão vasto, como as amizades, os encontros...conheci uma pessoa neste palco... e além da amizade, ele é o produtor deste disco, Ruben Alves."  É assim que entra em palco mais um convidado que os acompanha ao piano, em "O lindo ramo verde escuro" que arrebatou o público e deu lugar a uma forte ovação. A voz a solo, de Jorge Roque, faz-se ouvir na moda "Menina que andas no campo" que incentiva o público a acompanhá-lo. Este não se faz rogado e rápidamente se transforma num coro harmonioso. São sentimentos e emoções de muitos que sentem na alma a "sua" terra e se identificam nos sons destas "modas".  "Diz a laranja ao limão",  traz mais um músico a palco, o acordeonista Mário Caeiro. Antes disso já o público tinha vibrado com a percurssão de João Ferreira, em "Fui-te ver estavas lavando".

Uma visualização/audição de uma "breve história, de cartas trocadas durante a Guerra do Ultramar", traz a palco uma participação especial, Kátia Guerreiro, que com os Monda interpreta "Adeus Maria até quando". Para a fadista foi "...um enorme prazer e honra fazer parte da história destes meninos crescidos". "Erva Cidreira" e "Vai de Centro ao Centro", antecendem uma das modas mais emblemáticas, "Verão alentejano". E cante que é cante conta com o enriquecimento de um grupo de cantadores e eles estiveram lá. Os Cantadores de Portel marcaram a riqueza e diversidade dos vários tipos de cante, existentes na região.

Mas se a noite parecia já ter atingido o seu auge, o convidado seguinte veio mostrar que os géneros musicais se podem fundir. Rui Veloso fez elevar ainda mais o espectáculo e com os Monda e os Cantadores de Portel, interpretou "Só uma pena me existe". Houve ainda tempo para que Jorge Roque brincasse com Rui Veloso dizendo, "Eu cresci a ouvir a música dele... ele não é o pai do Roque, quem é o pai do Roque é o meu."  

A noite ia longa, mas poucos se importavam com o tempo, que voava ao ritmo das músicas que envolviam todos os presentes, na belíssima sala do Tivoli. A garrafa de vinho tinto "MONDA", presente no palco, foi aberta e foi feito um brinde ao público, "...estamos a brindar, à nossa e à vossa saúde". Mas o público queria mais música e... teve. Jorge Roque canta à "capella" "Solidão e da sua extraordinária voz, flui o sentimento de cada letra que deixa a plateia rendida, se é que já não estava, e mostrou isso, ao aplaudir de pé.

Estava quase a chegar ao fim uma noite de identidade nacional, onde os Monda mostraram como é possível renovar o cante alentejano, sem magoar as raízes ou a sua personalidade. Este grupo vai longe e só agora começou a dar os primeiros passos. Para fechar, em grande, todos os convidados subiram ao palco e acompanharam o trio Monda a interpretar, "Fui-te ver estavas lavando". O cante alentejano está de parabéns...  

Texto: Ana Clara Duarte/Anabela Santos

Photos by @Carlos Plácido

Direção: Anabela Santos

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