Moonspell... 25 anos

05-02-2017 22:44

Nem a intensa chuva ou o frio impediu que a Praça de Touros do Campo Pequeno atingisse o rubro com a performance dos "Moonspell". Casa cheia para comemorar os 25 anos da banda que, em três horas e meia, fez uma "longa-metragem" pelos seus três melhores álbuns, que preencheram estrategicamente cada "acto" do concerto, separados por dois intervalos.
E, na primeira parte, o álbum "Wolfheart" foi cabeça de cartaz, com destaque para temas como "Alma Mater" e "Ataegina" que fizeram o público vibrar, acompanhando esta que é uma das mais mediáticas bandas de Ghotic/Black Metal de Portugal.

 

Ainda os presentes na sala não se tinham refeito da intensidade da primeira parte e a banda regressa ao palco e toca uma das melhores músicas da sua carreira, "Full Moon Madness", opinião não só pessoal como internacional, já que foi a rampa de lançamento do grupo em vários pontos do mundo.

E se este foi um dos pontos altos, "Opium" e "A Poisoned Gift" agitaram o público que não se poupou a esforços para acompanhar a energia vibrante dos músicos. A última parte deste "gigante" espectáculo foi preenchida com músicas do recente álbum "Extint",  álbum que ficou no TOP1 em vários países. Músicas como "Breathe (Until We Are No More)", "Extinct" e "Funeral Bloom" mostraram que tanto o público como a banda eram muito resistentes, dada a intensidade dos dois lados. Ou não fossem eles os "Moonspell" com um público bem fiel, conquistado ao longo de um quarto de século. Nesta segunda parte, o grupo contou com a vocalista Mariangela Demurtas, da banda "Tristania" e mulher do guitarrista Ricardo Amorim, que interpretou alguns temas. 

E como se não bastasse a energia da banda, ao longo do concerto foram utilizados diversos espectáculos pirotécnicos que intensificaram a performance dos artistas.  Um espectáculo gravado para um DVD que perpétua esta data. No final uma banda extenuada, mas satisfeita...

Antes deste espectáculo comemorativo a News IN&OUT entrevistou a banda. Ricardo Amorim, guitarrista da banda respondeu às nossas perguntas:


NI&O - Retrospetiva destes 25 anos de actividade?
RA - Têm sido 25 anos sem parar e muita coisa aconteceu, desde a vontade assumida de 4 adolescentes em fazer uma banda até ao espectáculo de celebração dos 25 anos dos "Moonspell". Fizemos 11 álbuns de originais, fizemos inúmeras digressões até hoje por todo o mundo e não planeamos parar. Têm sido muitas alegrias, muitos dissabores, muitas experiências vividas e é incrível a quantidade de pessoas de diferentes culturas com quem temos tido a oportunidade de contactar até hoje. Tudo isto têm-nos tornado pessoas bem mais ricas interiormente e estamos, obviamente, gratos por isso. 


NI&O - Passou-se um quarto de século desde a gravação da demo "Anno Satanae", altura em que mudaram o nome da banda para "Moonspell". Alguma vez pensaram, que seriam uma das bandas de metal portuguesas, mais reconhecidas internacionalmente?
RA - Os "Moonspell" nasceram por necessidade puramente artística. Quisemos, de  alguma forma, prestar tributo aos artistas e bandas que na altura eram os nossos heróis e fonte de inspiração musical. É verdade que nos tornámos mais rapidamente populares no estrangeiro do que em Portugal mas, isto deveu-se ao facto de já existir uma cena musical "undergound" bastante forte e estruturada fora de Portugal, referindo-me sobretudo à Europa central e à Escandinávia. Esta cena tinha e tem a particularidade de conectar diferentes pessoas de todo o mundo que partilham o gosto pelo "Heavy Metal" e subgéneros. Foi através dos muitos contactos criados através do chamado "Tape Trading"  que os "Moonspell" conseguiram chamar a atenção de editoras estrangeiras. Foi nesse mercado que encontrámos o nosso espaço e a partir daí foi manter a coerência e construir sobre as bases lançadas. Achávamos que na altura havia falta de algo novo na cena metal portuguesa e, como tal, procurámos sempre apresentar algo diferente do que se fazia por essa altura. Acho que conseguimos e marcámos a diferença por isso. É bom esse reconhecimento pois dá-nos motivo para continuar a criar e tocar, o que para nós é sem duvida uma grande honra e um grande privilégio.

 
NI&O - Nestes anos qual foi o espetáculo que mais os marcou? Porquê?              
RA - É um pouco complicado responder, pois existiram vários espectáculos ao longo destes 25 anos que foram memoráveis por várias razões. Mas acho que é justo responder que o concerto de lançamento do álbum "Irreligious"  no Convento do Beato em 1996, é sem duvida um candidato a primeiro lugar no pódio dos concertos mais importantes da nossa carreira. Foi o concerto da consagração dos "Moonspell" enquanto banda válida e com muito para dar. O ambiente foi simplesmente fantástico. Foi muito gratificante ver a sala cheia, ver toda aquela cobertura mediática, sendo muita dela estrangeira e, sobretudo, ver a excitação e a entrega dos nossos fãs naquela noite. Foi uma química perfeita e nós tivemos todos os motivos para nos sentirmos, de facto, bastante felizes e orgulhosos com o que estávamos a conseguir fazer.

 
NI&O - "Opium", desse álbum, que comemora 20 anos, continua a ser uma das músicas mais conhecidas e acarinhadas dos fãs. O que tornou o álbum uma referência?          
RA - Eu gosto de pensar que foi o "pattern" de bateria que o Mike toca, pois é sem dúvida bastante orelhudo e "groovie". Gosto dizer que o "Irreligious" foi o álbum que apareceu no sítio certo à hora certa e é um álbum que vale pelo seu todo. O tema  "Opium" foi o single escolhido para representar o disco. É um excelente tema de abertura, simples, directo, bastante "catchy", cheio de "drive" e um conteúdo lírico bastante envolvente. Talvez seja a soma disto tudo que o torna num tema tão forte e tão apreciado.
 
NI&O - 2016 ficou marcado pelo prémio para o álbum "Extint"... entregue pela Sociedade Portuguesa de Autores. Reacção a esta distinção?
RA - Sobretudo de reconhecimento. Houve trabalho muito sério na concretização deste álbum e acho que pelo que o "Extinct" é, e pelo que conseguiu, merece sem dúvida este galardão. Ficámos todos muito satisfeitos por ver que o preconceito em relação à música que fazemos tende a desaparecer e, de todas as entidades que premeiam bandas, devo dizer que ser galardoado pela Sociedade Portuguesa de Autores é para mim o mais importante de todos os prémios, pois este é o reconhecimento total da pessoa ou banda enquanto autor(es) e artista(s).


NI&O - Projectos futuros?
RA - Temos brevemente um digressão agendada para a América Latina, que vai contemplar a maioria dos países sul americanos, e estamos a trabalhar no próximo álbum dos "Moonspell" que irá sair lá mais para o final do ano. É um álbum que tem como temática o "Terramoto de Lisboa em 1755" e vai ser inteiramente cantado em Português. Estamos bastante entusiasmados com este projecto.

Os "Moonspell" estão pois de "boa saúde" criativa e plenos de energia, como mostraram com este concerto, com a entrega completa da banda, para satisfação dos fãs que encheram o Campo Pequeno. A banda mostrou estar em plena forma... para mais uns anos, esperemos, mais 25. 


Jornalista: Tomás Santos
Supervisão: Anabela Santos
Revisão de textos: Isabel Baptista
Photos @ Denise Bravo


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